"Se um palhaço e uma soldada não conseguem conversar e chegar a um acordo, imagina nações brigando?". Esta é uma afirmação interrogativa de "Piolhinho", uma personagem palhaço interpretado pelo ator Marconi Arap em O Poderoso de Marte, de autoria do dramaturgo Tom S. Figueiredo e direção de Osvaldo Rosa, espetáculo infantojuvenil escrito especialmente para ser encenado pelo Grupo Teca Teatro, décima terceira obra do grupo em seus 20 anos, que entra em cartaz de 03 de setembro a 01 de outubro, sábados (16h) e domingos (11h), no Teatro Sesi Rio Vermelho.

A montagem, que conta com o apoio financeiro do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia, traz como pano de fundo o planeta Marte numa secular guerra mundial, sendo dizimado por seus habitantes, comandado por um Duque e sua sede sanguínea de poder. A entrada é a preços acessíveis de R$30 inteira e R$15 meia, com venda pelo Sympla e na Bilheteria do Teatro. A temporada tem classificação etária a partir dos 08 anos de idade.

O número de vidas diminui a cada instante, mortes por bombas e artefatos. Uma TV mostra o gráfico, não de mortes, mas de quanto há/resta de vida. Em meio a uma paleta de cores que dialogam com o cobre, exacerbadas pela iluminação (Allisson Sá), maquiagem, cenário e figurino (Leonardo Teles), O Poderoso de Marte nos apresenta o conflito do palhaço andarilho Piolhinho (Marconi Arap) e da soldada Atenas (Luciana Comin) - convicta de sua herança militar, que se esbarram durante uma longa guerra que assola o planeta Marte, que fora da ficção criada por Figueiredo vem sendo estudado para ser habitado por nós humanos em constante briga por poder e terra.

Em meio aos dramas típicos da guerra e sob a ameaça do fim da civilização, vemos surgir um conflito entre duas visões de mundo aparentemente inconciliáveis diante da gravidade da situação do planeta: enquanto o palhaço quer a ajuda da militar para formarem um circo, a militar quer que ele se junte a ela em um novo exército. Atenas quer destruir o inimigo com armas e seu Poderoso Exército de Marte. Piolhinho, a lona e o riso, como instrumento de diálogo e levante da bandeira branca, da paz, com o Poderoso Circo de Marte. Um espetáculo infantojuvenil em que a sua narrativa é valorizada a partir da coloração contida do cobre em comunhão com tons amarelos, marrom, cinza e as vibrantes acendem nos detalhes, nos momentos em que ocorre a empatia. Atenas e Piolhinho polarizam durante boa parte do espetáculo sem chegar a um acordo, permitindo que o público exercite a sua sensibilidade e reflita sobre a tolerância, a coexistência de diferentes ideologias, o autoritarismo, o lugar da luta e da arte na sociedade e, acima de tudo, a importância do pensamento democrático na construção de uma sociedade pacífica.

O planeta Marte é apenas uma alegoria, uma maneira de falar, sob uma máscara de ficção científica, a respeito de temas que não podem ser excluídos da infância. Assim, ora explorando o humor, ora explorando o drama, o texto busca este diálogo sincero com seu público, sem subestimar a inteligência da criança, e oferecendo um texto com diferentes camadas de fruição para ser também apreciado por jovens e adultos.

Para a atriz Luciana Comin, em determinado ponto o texto nos leva a recordar conflitos eminentes entre potências mundiais, como a guerra entre Ucrânia e Rússia, mas também há outros elementos no texto que podem dialogar com temáticas da contemporaneidade, como a intolerância ao discurso divergente, os conflitos ideológicos, a polarização, o autoritarismo e falta de empatia. A respeito disso, a atriz acredita que apresentar este tipo de temática ainda na infância e na juventude é importante para mostrar que a coexistência com pessoas e discursos diferentes é necessário. "Esse é um convite que fazemos às famílias que assistirão ao espetáculo", provoca a intérprete de Atenas. É uma história de condução contida e divertida, drama e clown, com uma reflexão séria. O público poderá assistir a um espetáculo que tem uma encenação que se baseia na economia, simplicidade e essencialidade. Na partitura que o texto sugere, nos movimentos que o jogo propõe, nas imagens, ruídos e ritmos que a história permite.

A respeito da musicalidade, a trilha sonora é de Luciano Salvador Bahia.

                               

O Grupo Teca Teatro, realizadora do projeto de encenação de "O Poderoso de Marte", se dedica aos diferentes públicos das variadas faixas etárias entre a infância e a juventude, repete a parceria com o autor Tom S. Figueiredo e o diretor Osvaldo Rosa, com quem realizaram há 15 anos o premiado espetáculo "Pedro e a Cobra de Fogo". Além dessa temporada inicial, já está prevista também uma apresentação única de O Poderoso de Marte no Teatro SESC-SENAC Pelourinho, no dia 8 de outubro, às 16h, como parte das comemorações do SESC-BA ao mês das crianças. Tratar de temas difíceis e urgentes em obras artísticas dedicadas às infâncias e juventudes faz parte da pesquisa do Grupo Teca há alguns anos: diversidade de gênero e sexualidade, levando à cena um elenco de Drag Queens, o infantil “O Cordel de Maria CinDRAGrela” (2016); o tema da morte no infantil “O Mundo de Dentro” (2015), em parceria com a Baú Produções; já se falou de crianças com comportamentos tirânicos na adaptação de Molière para infância, em “Com o rei na barriga”(2017); e sobre política cultural em bairros periféricos com o musical “Ora Bolas!” (2006). "Acreditamos ser importante incluir a criança na discussão sobre qualquer tema, considerando, claro, que existem formas de abordagens adequadas à cada faixa etária. O universo da criança não deve ser associado somente à felicidade e ao colorido, aos risos e à fantasia. Muitas delas sofrem perdas e violências sociais, passam fome e se refugiam por causa de guerras, etc. Excluir as crianças do debate social é não oportunizar meios de aprendizado importantes para seu desenvolvimento. Ainda mais no contexto pós pandêmico e todos os transtornos psíquicos e emocionais gerados pelo isolamento", pondera Comin. O Grupo Teca Teatro foi criado em 03 de agosto de 2003 e no seu repertório tem ainda as obras: “De sol, de céu e de lua” (2011), para o público bebê; “Atualmente Indefinido” (2014), "Por um like” (2016) e o musical "Eu vou te dar alegria" (2019), para o público jovem e adolescente.

 

De 01/09/2022 à 08/10/2022

Inteira: R$ 30 | Meia: R$ 15

Direção: Osvaldo Rosa

Elenco: Luciana Comin, Marconi Arap e participação de Daniel Calibam

Local: Teatro Sesi Rio Vermelho